Tuesday, April 5, 2016

Grandes Mulheres: Jornalista Bel Ascenso

Eu estava numa festa, querendo se descolada, porém me sentindo deslocada. Mesmo. Uma festa da classe média brasileira, que acreditam  serem alemães ou italianos no país errado, que estudaram na melhor universidade do país, por um antigo sistema de cotas para brancos. Festa de rock Roll com Beatles, Rolling Stones, quem alguns dizem terem roubado o ritmo dos negros  americanos. 
Então ali sozinha meia sem saber como se divertir, torcendo que nenhum  "desavisado" viesse me oferecer o copo vazio.
Uma jovem " aristocrata,  mística e arrojada", tem a gentileza de vir conversar comigo. A conversa nem bem começou, e eu disse que eu era frienta. Ops... Ela olhou para mim com a cara de desprezo e um leve sorriso de nojo e me falou: - " Você quer dizer friorenta." E saiu me adicionando  o sentimento, de estúpida, em cima do deslocada.
Depois de mais um longo período sozinha, uma garota simpática vem conversar comigo, ela começa a me fazer perguntas e eu começo a responder. Eu comecei a me sentir valorizada. Na festa estranha, de gente "snobe", alguém estava interessada em meus sonhos.  Finalmente meu parceiro apareceu e disse que era hora de partirmos.
                                                    Jovem diplomata Bel ascenso
Logo que saímos da festa, minha alegria fugiu, quando ele comentou que eu o havia envergonhado. Pois eu havia falado a noite inteira com a Bel, o nome dela era Bel, sem deixar espaço para ela falar. Eu acho que ouvir este comentário doeu mais, do que o desprezo dado gratuitamente pela friorenta.
Mas aquela garota tão simpática e bonita havia nascido sobre o signo dos meus anjos; os Arianos, que me fez sentir a vontade o suficiente, para abrir os meus sonhos, estaria prestes a mudar minha vida para sempre...
Ela era uma ariana adaptável, emotiva e sensível. Como ela era capaz de conquistar tudo aquilo de que precisava, ela não via necessidade de ser agressiva. 
Na festa eu havia falado a ela a respeito de preconceito, discriminações e bonecas negras. 
A jovem Bel Ascenso era uma jornalista do jornal Folha de São Paulo, e sugeriu para o chefe fazer uma reportagem sobre mim e as minhas bonecas negras. O chefe comprou a ideia da diplomata nata Belzinha. 
Bom, tinha um problema, para ela fazer uma reportagem sobre as bonecas negras, eu teria que ter uma empresa. Então o Walter começou a abrir uma empresa. A Bel veio com um fotógrafo e fez a matéria, e pediu para a gente a avisasse, ao abrirmos a empresa. 
No dia que o Walter disse a ela que havíamos dado entrada nos papéis, ela colocou a sua matéria no jornal. Uma página inteira, contando numa linguagem sábia e perfeita o que relatei para ela naquela festa estranha de gente estranha.
Se não fosse a persistência dela, provavelmente nós nunca teríamos criado a Tilai. Mas não foi somente a minha vida que ela mudou para sempre. Com aquele artigo a Bel proporcionou uma mudança no Brasil. Ela me disse que aquela reportagem abriria a porta para outras e foi isto que aconteceu. Hoje bonecas negras no Brasil não são sonhos mas realidade.
Uma matéria, qualquer jornalista pode fazer, os mais cínicos poderão dizer.
Angela Maya disse: As pessoas esquecerão o que você disse, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentirem.
Eu nunca esqueço como a Bel me fez sentir importante, como se o meu sonho também fosse importante. 
Há mais de um ano atrás eu comecei a perceber que a Bel começou a colocar muito (Posters) de pessoas importantes que haviam morrido. Eu percebi que ela estava se conectando com a morte, mas não sabia porque.
As vezes nós temos uma árvore gigante poderosa, e a gente não aprecia, não o abraçamos o quanto deveríamos. Até que um dia nós saímos e percebemos que a árvore gigante e poderosa não se encontra mais lá.
A partida da Bel  teve um impacto fortíssimo em mim. Comecei a me questionar, porque eu nunca a disse que a amava. Eu normalmente nunca digo às pessoas que as amo e que elas são importantes.
Como construir uma estátua para ela, homenageá-la com um parque ou uma avenida larga? Que todos possam saber que existiu uma grande mulher, uma grande jornalista, uma pacificadora sensível , no qual as pessoas confiavam e solicitavam a sua intervenção como se fosse um juiz. Eu não solicitei, mas ela realizou ...
Ela foi  muito estimada por todos de sua comunidade, não por ser uma grande jornalista, mas por causa de sua natureza bastante sensível, e profundamente amorosa.  
Ela gostava de música e  poesias.
Tem coisas e pessoas neste universo de bilhões de coisas e pessoas, que somente algumas pessoas têm o privilégio de encontrarem.
E eu faço parte de um grupo de privilegiados, que teve a boa sorte e fortuna de encontrá-la e conhecê-lá.
Eu quero aumentar minha capacidade de me tornar mais parecida com a Bel Ascenso e fazer as pessoas a minha volta  sentirem que as suas vidas contam.
A Bel viverá eternamente no meu coração!